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Archive for julho \26\-03:00 2008

Que é amor?

Que é amor?

Amor é uma paixão natural que nasce da visão da beleza do outro sexo e da lembrança obsedante dessa beleza. Passamos a desejar, acima de tudo, estar nos braços do outro e a desejar que, nesse contato, sejam respeitados por vontade comum todos os mandamentos do amor.

Fácil é ver que o amor é uma paixão. Isto porque angústia nenhuma é maior que a provocada por ele, pois o enamorado está sempre no temor de que sua paixão não atinja o resultado desejado e de que seus esforços sejam baldados. Teme também o falatório da multidão e tudo o que, de uma maneira ou de outra, possa prejudicar seu amor, pois é bem freqüente que uma perturbação mínima impeça de levar a bom termo o que se ia consumar. Se o enamorado é pobre, teme que a amada vilipendie sua penúria; se é feio, tem que ela despreze seu físico ingrato ou que procure o amor de alguém mais belo; se é rico, teme que sua passada parcimônia acabe por reverter em prejuízo; e, para dizer a verdade, nãoninguém que possa contar em minúcias os temores do enamorado.

Essa espécie de amor é, pois, uma paixão não recíproca que se pode chamar de “amor singular”.

Mas, uma vez correspondido o amor, as angústias que surgem não são menores; porque cada um dos dois amantes teme perder, pela ação de um terceiro, aquilo que conquistou com tanto esforço; situação bem mais penosa para todo homem é ver seus esforços baldados, contrariando-lhe as esperanças: suportamos bem menos a perda de coisas que acreditávamos obter do que a privação de um ganho que apenas esperávamos. O amante também tem medo de ofender a amada de uma maneira ou de outra, e seus temores são tão numerosos que é bem difícil relacioná-los. Pois, essa paixão é inata, e te mostrarei com clareza, se estiveres buscando escrupulosamente a verdade, por que ela não nasce de ação alguma, mas apenas de reflexão do espírito sobre aquilo que se . Isto porque, quando que uma mulher é digna de ser amada e convém a seu gosto, o homem logo começa a desejá-la em seu coração; depois, quanto mais pensa nela, mais se abrasa de amor por ela, até que seu pensamento seja todo invadido por esse amor. Logo começa ele a imaginar o modo como ela é feita, a delinear seus membros, a conjeturar suas ocupações; procura penetrar os segredos de seu corpo e deseja possuir cada uma de suas partes sem exceção.

Quando esses pensamentos chegam a tomar conta dele por inteiro, nãocomo frear o amor, e ele passa de pronto à ação; o enamorado procura obter um apoio, descobrir um mensageiro. Começa a cismar modos de vir a estar nas boas graças de quem ama, busca lugar e momento propícios à conversação, e um breve instante é para ele um ano interminável, pois nada é feito com suficiente presteza para seu espírito impaciente; e muitas coisas, como se sabe, assim se passam com ele. Essa paixão inata procede, pois, da visão e da reflexão. E não é qualquer reflexão suficiente para engendrar o amor: cumpre que seja descomedida, pois se moderada geralmente não obceca o espírito e não pode dar origem a essa paixão.

CAPELÃO, André. Tratado do Amor Cortês. Martins Fontes: São Paulo, 2000. pp. 5-9

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“10 de fevereiro de 1995

Jaime,

Sou uma pessoa solitária. Mesmo acompanhada, sinto-me só. É minha natureza, não sei que espírito ruim me possui, ou quais os males que estou pagando, só sei que não consigo viver feliz. E nem mais quero, pois sinto-me totalmente despreparada e sem talento para a paz. O que tenho é tédio, tédio de tudo e tudo mais. Quero dormir, mas não consigo. Quero levantar-me e andar léguas, mas um sono incontrolável se apodera de mim. Sou assim. Uma pessoa que, por algum motivo misterioso, aprendeu a sofrer e, gostando ou não, viverá sempre assim: sofrendo. Nenhum motivo mais será necessário, nenhuma dor, nenhuma perda. Apenas o dormir ou não dormir, o acordar e o nada a fazer, além de ficar na cama pensando sobre os meus pés e os pés de toda a humanidade. Eu, que nenhum talento possuo, que passarei pela vida sem ter cometido uma grande obra. Sem ser herói ou assassino. Passarei pelo mundo como os milhões que já passaram, os bilhões, trilhões de desconhecidos que não tiveram nada para deixar pro futuro. Milhares de rostos na sombra, no limbo. Cada qual dependendo de filhos, netos, bisnetos e tudo o mais, para serem relembrados. Porém a memória da vida de um homem médio não dura mais que três ou quatro gerações. Algumas pessoas são imediatamente esquecidas quando partem.

Partem para onde? Para onde eu irei quando morrer? Os que têm filhos vão para os porta-retratos. Viram mártires, porque os mortos são santos. Os mortos que têm família tornam-se flores num jarro. Retratos pintados à mão. Tornam-se algumas histórias engraçadas ou comoventes. Os mortos são dia de finados, dia de aniversário, Natal e nada mais. Mas já é alguma coisa. Mesmo que isso seja tudo o que uma pessoa ganha por ter vivido setenta anos ou mais, é alguma coisa. E para mim, o que sobrará de minha existência quando ela não mais existir? Isso! Não mais existirá. Nada. Nenhum filho ingrato a curar suas culpas, indo colocar flores no jarro sobre a minha lápide. Nenhum amor sofrendo; pela lembrança de minha juventude. Nem amigos contando histórias sobre porres inesquecíveis. Nada. Um dia encontrarão algumas fotos e cartões-postais numa caixa de madeira velha. Encontrarão restos de mim, em papel e anotações. Talvez um corretor imobiliário encontre minhas lembranças todas dentro de uma caixa velha de papelão. Um dia, talvez uma jovem curiosa, mexendo em papéis velhos numa feira de antiguidades, encontre fotos minhas. Eu, com minha prepotência e alma de escritor. Que nunca escrevi uma só linha que prestasse. Ali, na caixa de madeira ou papelão. Fotos de uma mulher que nunca quis ter filhos e não os teve. Fotos de uma mulher que não cultivou amigos, nem amantes eternos.

Rasgarei todas as minhas fotos quando sentir a morte chegar. Peço a algum Deus, caso exista e esteja me escutando: avise-me quando a morte estiver em meu encalço! Não serei eterna como aqueles que fizeram algo estrondoso. Não sou Proust, não sou Hitler, não sou nem mesmo o papagaio do Pirata da Perna de Pau. Sou Ana Delfina Amaral. Uma mulher que tem o nome nobre e talvez a alma também. Não tive pai para amar, tive mãe para odiar e algumas paixões. Sou Ana e pretendo rasgar as minhas fotos antes de morrer.

Desculpa,

Ana.”

YOUNG, Fernanda. Vergonha dos Pés. 1996. Página 263/265.

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Ex-refém Ingrid Betancourt reencontra os filhos depois de seis anos de cativeiro

‘Estou me sentindo no paraíso’, disse a ex-prisioneira das Farc entre os dois filhos. Reencontro ocorreu em base militar em Bogotá, capital da Colômbia

Ingrid e mais 14 reféns foram libertados na quarta-feira na selva colombiana depois de uma operação do Exército da Colômbia, que afirmou ter infiltrado homens nas Farc e enganado os guerrilheiros.

“Quero primeiro dar graças a Deus e aos soldados da Colômbia”, disse Ingrid à rádio do Exército pouco depois da libertação, em entrevista reproduzida por emissoras de toda a Colômbia.

Ingrid Betancourt foi resgatada em uma região de selva do departamento de Guaviare, no sudoeste da Colômbia.

Ao chegar a Bogotá, ela reencontrou a mãe, Yolanda Pulecio, e o atual marido, Juan Carlos Lecompte, disse estar muito emocionada e contou como aconteceu o resgate. “Foi uma operação perfeita, não creio que haja na história do mundo uma operação tão fantástica.”

Falando em espanhol e em francês, ela agradeceu à França e Sarkozy por seu apoio e solidariedade com os seqüestrados.

“Obrigado ao meu Exército, à minha pátria Colômbia, obrigado pela impecável operação, a operação foi perfeita.”

Ingrid também garantiu que vai continuar a lutar pela liberdade dos que ficaram na selva. Ela disse que espera que a libertação dos demais reféns venha pela via da negociação, mas, se não for assim, “tenhamos confiança nas nossas forças militares”.

(…)

Segundo Ingrid, os militares que se fizeram passar por guerrilheiros para fazer o resgate se camuflaram de tal maneira que vários usavam camisetas com imagem de Ernesto Che Guevara. “Eles falavam como guerrilheiros e se vestiam como eles”, disse.

De acordo com a ex-refém, a operação começou ao amanhecer, quando os reféns foram informados pelos guerrilheiros de que iriam ser transferidos. Ela disse que nenhum refém suspeitou da operação, e que só se deram conta de que foram resgatados quando um dos supostos guerrilheiros gritou: “somos o Exército da Colômbia, vocês estão livres.”

Para ler mais, visite http://www.g1.com.br

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